quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Engel em Português! - Parte 1



Para quem nunca ouviu falar, Engel é um RPG alemão pós-apocaliptico onde os protagonistas são (tchã rã) anjos. Conheci este cenário apartir de uma resenha que li na RedeRPG e fiquei muito interessado. É um cenário sombrio, cheio de intrigas e segredos interessantes.


Já que estou assistindo e gostando muito do seriado Game of Thrones (recomendo) e já que cenários medievais são tão populares em nossa terrinha, mas sendo que não sou tão fã assim de fantasia medieval clássica, achei por bem abordar este cenário que é tratado no livro básico como "neo-medieval". Sim, Engel "soa" como medieval e tem aquele climão, mas também tem vestígios da tecnologia que se perdeu em nosso tempo. O jogo se passa no século XXVII.

Originalmente, o Engel foi desenvolvido pra um sistema próprio chamado Arkana Karten que usa cartas semelhante ao baralho de tarô, mas com a temática própria do cenário. Mais tarde, foi lançado também para d20.

A tradução que será feita aqui é baseada na versão espanhola do Engel d20. "Ei, Bruno, por que você não faz a tradução logo da versão original? Não é mais fiel?" Com certeza, mas é em alemão e eu não falo bulhufas de alemão. Minhas opções para trazer este cenário para nosso língua são usar a versão em inglês (idioma que eu mal sei o básico, o qual só conta com a primeira edição do Engel) ou usar a versão espanhola (idioma que eu entendo quase perfeitamente e que me oferece a segunda edição alemã). Difícil escolha, não?

O módulo básico do jogo é dividido em duas partes: uma somente com a ambientação e outra com as regras do jogo. Isso facilita enormemente a minha vida, já que eu não pretendo usar as regras do d20 por aqui. Assim, esta tradução será focado na primeira parte do livro.

Se você é familiarizado com o Engel, seja a versão em alemão, inglês ou espanhol, sinta-se a vontade para apontar alguma falha que eu cometa durante o processo de tradução.

Enjoy!






INTRODUÇÃO




Anjos.

Os emissários do Senhor, cujo nome deriva da palavra grega "angelos" -- mensageiro. Seres sobrenaturais mencionados pela primeira vez no Antigo e no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, classificados em diferentes postos, chamados coros. Poderosos arautos da vontade divina cuja importância não se limita às crenças cristãs, já que também representam um papel vital na fé islâmica. 

Este livro é sobre estas entidades, seres tão integrados na cultura ocidental como a existência de Deus, o número "pi" ou a lei do mais forte. Passam pelas canções "pop" modernas. Decoram lápides e cartões de casamento, são reproduzidos em milhões de objetos encontrados em qualquer lojinha do planeta, são carregados em broches, os vemos ilustrados em jornais, nas igrejas e em objetos pseudoreligiosos de mal gosto, em insinuantes representações que mostram charmosos anjos masculinos conduzindo frágeis donzelas através de pontes sobre águas turbulentas. 

Os anjos aparecem muitas vezes em romances, filmes, seriados, videogames e todos os museus estão literalmente inundados de quadros e estátuas com estes seres alados. 

Isto significa que tudo já foi dito sobre anjos? 

Não. Nem tudo. 

Para os fiéis, os anjos têm sido sempre uma fonte de esperança, os arautos da Divindade e os campeões do Senhor. Nos séculos de banalização durante os quais os ídolos usurparam o legítimo lugar do Senhor, os anjos foram ignorados de forma imperdoável. Mas em um futuro distante, voltam a cumprir as tarefas para as quais foram criados, mesmo que seja sob um novo nome, Engel. Os Engel levam as esperanças do mundo em suas asas. A Hoste Resplandecente enfrenta a prole do Senhor das Moscas em uma luta que abala as estruturas do Céu e da Terra. E o resultado dessa guerra decidirá o futuro da humanidade -- ou sua aniquilação total. 


O QUE É ENGEL? 

Engel é um jogo de interpretação ambientado no século XXVII. Estamos no ano 2654 d.C. Pragas e desastres ecológicos assolam a Terra, o clima e os ventos devastam nações e os oceanos se elevaram a níveis alarmantes, modificando inevitavelmente a face do Velho Mundo. Devido a estas catástrofes, a humanidade caiu em um estado pós-apocaliptico que seria bem descrito sob o termo de "neomedieval". A força mais influente sobre a vida pessoas é o domínio da Igreja, que recuperou seu antigo esplendor, governando o continente a partir da "Roma AEterna" mediante o poder da Hoste Divina, sob suas ordens. 

Engel é um jogo narrativo. Os já familiarizados com esta expressão podem pular os próximos parágrafos e passar ao Capítulo Um: História Apocaliptica para começar a conhecer a história do mundo de Engel. O que vem a seguir é um pequena introdução para aqueles a quem este livro representa seu primeiro passo no universo dos jogos narrativos. 


JOGOS NARRATIVOS 

Os jogos narrativos são representações clássicas, jogos em que os participantes descrevem as ações de seus personagens. Mas se não houvesse alguma simulação (mecânica?), não poderíamos representar competições, ou encenar duelos ou abrir uma porta com um pontapé estando sentados ao redor de uma mesa. 

Em Engel, ações como estas na história são realizadas mediante um simples conjunto de regras desenvolvidas para facilitar sua resolução. As regras que se encontram neste livro são uma ferramenta que servem de ponte entre a força da sua imaginação e a necessidade de simular certos aspectos do jogo. Oferecemos a oportunidade de usar as regras do jogo de interpretação mais popular de todos os tempos, o sistema que emprega principalmente dados de vinte faces. A despeito deste sistema, há uma regra em que se pode sempre confiar antes de fazer testes: use o bom senso e esqueça os dados. 

O desenvolvimento do jogo depende das ações dos personagens e das possíveis reviravoltas na trama que o narrador ofereça. A pequena anedota que incluímos, retirada de uma partida qualquer, demonstra que todas as ações e as palavras dos personagens são responsabilidade exclusiva dos jogadores, mesmo que as repercussões exatas não sejam óbvias a curto prazo. 

No entanto, o resultado final de uma cena depende muito das decisões do narrador: será Abel, o narrador, quem decidirá como Ab Gundar reagirá ante as palavras de Sacriel e o fracasso dos Engel. Em outras palavras, ele empresta sua voz a todas as pessoas que encontram os personagens, tanto vitais como os secundários para a trama geral: o narrador proporciona traços de personalidade e características especiais a estes personagens, e é ele quem tem a última palavra sobre tudo que façam ou digam. 


EXEMPLO 

Abel, Susana, Esteban e Toni se reuniram para jogar. Esteban, Susana e Toni são os jogadores. Esteban interpreta Rachiel, um Engel experiente. 
Susana interpreta Lamiel. Seu Engel reside no monastério onde o Ab é o atual superior da companhia. 
Toni interpreta Sacriel, que nesta missão está autorizado a empunhar pela primeira vez uma espada flamejante. Além disso, é muito sucetível ao pecado mortal da ira.  
Abel é o narrador. Ele explica aos jogadores que estiveram buscando um suspeito de heresia. Lamentavelmente, falharam em sua missão, por isso se sentem desanimados voltando ao monastério para informar ao Ab.  
Abel descreve a cena. "Dois Templários e seu oficial vieram buscar-lhes em seus aposentos. Sabem que o oficial se chama Xesos. O seguem enquanto atravessam o mosteiro."  
"A sala até onde são escoltados é enorme, opulentamente decorada de obras de arte sacras de épocas distantes. Claro, os Engel não tem porque conhecer sua origem, mas para que façam uma idéia, é um variedade de relíquias medievais, pinturas renascentistas e até modestos crucifixos de madeira do final do século XX. Há uma única vela amarelada, larga e grossa como um braço, colocada sobre um enorme candelabro dourado, oscilando e projetando uma luz difusa sobre o quarto, cheio de afrescos e estátuas. Mas vocês mal tiveram tempo de verificar o ambiente. Obedecendo a um gesto do oficial, os Templários os escoltam até uma elevação próxima à parede mais distante da sala. Eles se mantem a uma distância respeitosa, mas sua atitude revela que não estão propensos a tolerar nenhuma resistência da parte de vocês. Sobre a elevação há indivíduo velho e pálido que leva as vestes ornamentadas de um Ab da Igreja Angélica, sentado sobre uma cadeira de madeira com um apoio muito alto, lembrando a vocês um trono."  
Abel continua, falando como se fosse o Ab: "Já fazem mais de três décadas que sou o Ab deste monastério. Como um pai, severo mas clemente e piedoso quando necessário, guiei os fiéis das vilas próximas pelo caminho do enriquecimento. Quando meus irmãos e eu chegamos a estas terras áridas, havia somente ruínas, mas sob minha tutela, foi fundada uma cidade. Vocês já viram com seus próprios olhos as plantas da catedral que vou erger. E durante todo este tempo, os Engel do Senhor sempre estiveram comigo. Então, como devo reagir ao saber que falharam em uma missão tão simples? Falem, porque não me conformo!  
O narrador permanece em silêncio, dando aos jogadores a oportunidade de continuar a história. 

Esteban reage primeiro e responde, interpretando Rachiel: "Pai, perdoe-nos, por favor, nossa companhia..." 

Toni interrompe, atuando como Sacriel: "Não, Rachiel, já chega! Com o devido respeito, Pai, você parece ter esquecido com quem está falando! Somos os Engel do Senhor, não pupilos seus com quem possa brigar à vontade!" 

Abel deve transmitir aos seus jogadores a ira do Ab pela reação inapropriada do jovem Engel. Ao invés de se limitar a descrever o comportamento do velho monje, vai um passo além, recorrendo à suas habilidades interpretativas, escutando a resposta e refletindo no rosto a reação do Ab, estimulando a imaginação do jogadores. Seus dedos se agarram aos braços da cadeira em que está comodamente sentado (o Ab se agarra às cabeças de leões douradas nos braços de seu trono com os dedos tencionados) e olha furiosamente para Abel (o furioso olhar do velho cai sobre Sacriel). 

Então, Susana intervém; para salvar a situação, Lamiel exclama "Acalme-se, Sacriel!" 

Então, descreve o que seu Engel faz a seguir. "Por minhas dolorosas experiências, sei perfeitamente o que acontece quando o Ab Gundar se enfurece, por isso evito encará-lo a qualquer preço. Em vez disso, olho ao redor. Como os Templários reagiram à insolência de Sacriel? E o que Xesos está fazendo?" 





OS ENGEL 

Os jogos narrativos, em suas várias formas, sempre se nutriram da grande variedade de criaturas interessantes que existem no nosso mundo (incluindo os seres da mitologia e das lendas), do mundo selvagem de fantasia clássica até os romances policiais e as histórias em quadrinhos modernas. Os heróis do jogo narrativo que você está lendo e cuja pele vai encarnar são anjos, mensageiros do Senhor. Você deve dar-lhes vida e acompanhá-los até um mundo em um futuro distante onde colidem o misticismo e a tecnologia, a fé e o ódio. 

Os Engel, que inundam o céu deste mundo ao mesmo tempo avançado e arcaico com o bater de suas asas, em muitos sentidos lembram a imagem que trás à mente a palavra "anjo", mas em muitos outros aspectos também são diferentes do que se poderia esperar. Nossa Hoste Celestial é formada por criaturas muito especiais: lhes foram concedidos poderes extranhos e impressionantes. Se assemelham às pessoas a quem lhes foi ordenado proteger, mas ainda assim se diferenciam deles de formas quase incompreensiveis. 


O QUE AS PESSOAS DO SÉCULO XXVII SABEM SOBRE OS ENGEL 

De certa forma, os Engel, a quem os convidamos a interpretar, se acemelham aos campeões do Senhor que conhecemos tão bem dos relatos bíblicos. Sem dúvida, há muito de certo no que diz a tradição, mesmo assim não somos tão presunçosos para julgar se estes relatos antigos sobre anjos são certos ou se as pessoas os inventaram, impulsionados pelo fervor religioso. Nem tudo o que se atribui aos Engel se baseiam em fatos. Para introduzir a atmosfera do jogo, apresentamos algumas das afirmações fundamentais sobre a Hoste Celestial que formam parte do imaginário comum das pessoas do século XXVII. Ao mesmo tempo, destacaremos o que há de falso nestas doutrinas, principalmente devido à ignorância, mas também causadas pela inocência infantil que os assuntos do Altíssimo despertam. 

Os Engel são imortais. Durante as cruzadas contra as Crias, incontáveis legiões de executores alados da lei divina enfrentaram seu destino final, já que os Engel não são invulneráveis. A despeito disto, não envelhescem nem morrem como os filhos menores de Deus. Não precisam comer nem beber no sentido habitual, já que o Maná do céu sacia todas as suas necessidades. Mesmo assim, se desejarem podem compartilhar a comida e a bebida dos homens, da mesma forma que Cristo compartilhava o pão e o vinho com Seus discípulos. 

Os Engel são tão fortes como Sansão, que aniquilou os filisteus; os pássaros, os animais e os peixes os obedecem; suas palavras carregam a autoridade do Senhor e podem ressuscitar os mortos. Todas estas afirmações são tanto falsas como corretas. Os Engel possuem "Potestates" ("Potestas", no singular), poderes concedidos por Deus que variam dependendo das diversas Órdens. A medida que o Engel descobre mais mistérios sobre sua casta*, seu domínio destes poderes se elevam. Está claro que muitas das habilidades atribuídas à Hoste Divina derivam das esperanças do povo europeu. Entretanto, por outro lado, é bem sabido que alguns Engel podem resgatar os falecidos da morte e o quão terrível é comtemplar a ira dos anjos guerreiros quando suas temíveis espadas se cruzam com as dos inimigos da fé. 

Os Engel possuem asas e podem percorrer distâncias muito longas voando. Correto: os Engel possuem asas nas costas que lhes permitem voar. Estas asas são quase sempre brancas e se elevam acima da cabeça do Engel, fazendo seu vôo tão elegante quanto o do cisne e tão preciso quanto o da águia. Os Urielitas, os exploradores nas comitivas*, são especialmente treinados para cobrir longas distâncias.Há rumores que são capazes até mesmo de dormir ou ao menos descansar em pleno vôo. A exceção à esta regra são os Sarielitas, uma casta* de anjos sem asas. 

Nem todos os Engel empunham espadas flamejantes. Esta arma sagrada é reservada à Órdem Grabrielita, pois seu arcanjo e fundador, Gabriel, o Campeão do Senhor, a recebeu das mão do Todo Poderoso em pessoa para que viasse as portas do Éden. Os Rafaelitas, cujas mãos podem curar, quase nunca empunham armas e rejeitam a violência. 

Existem oito ordens de Engel. Esta afirmação é tanto verdadeira quanto falsa. Séculos atrás, quando o Senhor abençoou Seu destruido mundo enviando pela segunda vez Seus Engel à Terra, havia oito órdens*. Restam agora somente seis; das quais, cinco integram as companhias* à serviço da vontade do Senhor: os Miguelitas, os Gabrielitas, os Rafaelitas, os Ramielitas e os Urielitas. Estas cinco órdens* são conhecidas como as "órdens guerreiras", um nome que, no caso dos Rafaelitas, é bastante inapropriado. A sexta ordem* são os Sarielitas, muitas vezes conhecidos simplesmente como "o Coro". As órdens que desapareceram foram os Raguelitas*, cujo Firmamento foi destruido pelas Crias, e os Samaelitas. Estes últimos sacrificaram até seu último integrante para salvar sua ilha natal, Córcega, da ocupação das Crias. 

Os Engel levam os símbolos de suas ordens nas vestes. As ordens guerreiras, sim. Os Símbolos servem para que todo aquele que veja um Engel possa saber a que órdem pertence o mensageiro do Senhor em questão. Os símbolos são a auréola e a chave (Miguelitas), a espada flamejante (Gabrielitas), a mão que sara (Rafaelitas), o Livro dos Livros (Ramielitas) e o olho que tudo vê (Urielitas). 

Não existem Engel Sombrios; nunca existiram e nunca existirão. Não há dúvida que um dos objetivos fundamentais das Crias é a criação de Engel Sombrios, por meio do que for necessário*. A dúvida é se estas blasfemas criaturas pretendem criar Engel Sombrios que se ajoelhem e obedeçam cegamente ao Senhor das Moscas (um comportamento impensável) ou se têm a intenção que os Engel Sombrios que povoam* os pesadelos dos camponeses sejam antigos membros das cinco órdens caídos em desgraça. Venham de onde vierem, existem incontáveis rumores sobre as atrocidades que estas expressões máximas de depravação estão provocando. O tom* (teor?) destas histórias varia consideravelmente; nem todos descrevem os Engel negros como monstros malvados e demoníacos. Em alguns destes relatos, são heróis trágicos ou criaturas incompreendidas que o Senhor expulsou por pecados perdoáveis em um momento de negligência (como se Ele fosse capaz de algo assim). Isso tudo não tem sentido algum; a Igreja Angélica contradiz energicamente todos os rumores sobre Engel Sombrios e nega sua existência com máxima severidade. 


A CONSAGRAÇÃO DOS ENGEL 

O caminho* de um Engel sobre a Terra se inicia com um período de treinamento, educação e provas constantes sobre suas habilidades. Esta aprendizagem dura anos, ou em alguns casos excepcionais, somente alguns* meses, durante os quais o jovem Engel permanece em seu Firmamento, as cidades gigantescas das órdens. A única certeza é que durante este período aprendem a voar. Durante a Consagração dos Engel, uma cerimônia da mais absoluta solenidade celebrada durante o equinóscio de primavera e de outono, os Engel são aceitos oficialmente como membros plenos de suas órdens. A cerimônia é celebrada na Praça de São Pedro em Roma, onde os Engel são abençoados pelo Pontifex Maximus Petrus Secundus, o dirigente supremo da Igreja Angélica. Da sacada do Palácio Laterano, o Pontifex dá as boas-vindas aos novos campeões da Hoste Celestial. Depois disto, cada Engel é considerado como um dos anjos do Senhor, um vassalo e executor da vontade divina. 

No que diz respeito à importância cerimonial e social, em toda a vida de um Engel não há nada comparável à este acontecimento. Depois da consagração, que dura desde o amanhecer até que o sol desapareça atrás das torres do Palácio Laterano, todos os Engel recém consagrados voam no céu em uma impressionante demonstração de glória. Centenas de fiéis se reúnem para presenciar esta cerimónia religiosa, especialmente durante o espetacular enceramento. É dito que o Senhor sorri durante um ano inteiro àquele que apanhe uma pluma de Engel que caia do céu. 

Depois de sua consagração, os Engel permanecem na Cidade Eterna durante uma única noite antes de partir para os monastérios ou para locais onde devam desempenhar sua função. São os anjos do Senhor, dispostos a servir ao Todo Poderoso e obrigados a defender seu rebanho. 


AS COMPANHIAS* 

As pessoas comuns vivem dentro de sistemas sociais de todos os tamanhos imagináveis, desde os eremitas em uma caverna na floresta até os habitantes das últimas cidades sobreviventes da Terra; no entanto, os Engel tomam parte de uma unidade social que emprega todo o seu ser e influencia suas vidas: a companhia. As companhias são pequenas unidades militares autônomas dentro da Hoste Celestial, e são integradas por um Engel de cada ordem guerreira. Em casos excepcionais, dentro de uma companhia existem membros de uma mesma ordem; mais raro ainda é que alguma ordem não seja tenha representante. Às vezes, a companhia se vê reforçada por um segundo Gabrielita, especialmente se é prevista um combate difícil. Os Sarielitas ajuntam-se às companhias somente em raríssimas ocasiões, quando sua missão requer conselhos especiais sobre questões de fé. 

Todas as companhias são lideradas por um Miguelita. Algumas são estabelecidas em mosteiros ou Firmamentos onde se ocupam de várias tarefas. Outras, possuem um pequeno refúgio em um território difícil para satisfazer as necessidades físicas e espirituais mais básicas dos viajantes. Algumas viajam pelos cantos mais distantes do continente seguindo os inescrutáveis caminhos do Senhor. Os Engel dos jogadores pertencerão a uma destas últimas, uma companhia errante que tenta resolver as missões mais perigosas ou enigmáticas. 


O MUNDO DE ENGEL 

Os Engel não se apegam aos bens materiais, nem à riqueza ou ao status. Empregam as Potestas oferecidas por Deus pelo bem dos fiéis, dos quais são responsáveis, em um mundo extremamente hostil. Engel é ambientado na Europa. Os céus são sombrios e chove quase constantemente. O eterno adversário de Deus, o Senhor das Moscas, envia para a batalha uma legião atrás da outra de escravos inconscientes ou de ferramentas voluntárias para esculpir a terra* (o mundo?) à sua imagem e semelhança. Alguns membros do clero e vários senhores seculares* obedecem suas ordens secretamente. 

Salvo algumas excessões, as maiores cidades da Europa se perderam durante o Segundo Dilúvio, há mais de 500 anos. A Europa é cortada por rios incrivelmente largos e pontuada pelos incontáveis mares e lagos deixados pela grande inundação.E ninguém sabe o que acontece sob as ondas... 


A ETERNA CRUZADA 

Imediatamente depois do Segundo Advento dos Engel, se iniciou a guerra contra as Sementes dos Sonhos*. Estas criaturas insetóides são os servos do Senhor das Moscas. Entretanto, há rumores de que não são nada além de criaturas concebidas pelos piores pesadelos da humanidade. Talvez sejam ambos. 

Desde que o Pontifex Maximus Petrus Secundus declarou a Grande Cruzada contra as Crias em 2472, os Engel lutam sem descanso contra elas em incontáveis frentes de batalha, uma guerra conhecida nos Firmamentos somente como a Eterna Cruzada, a que decidirá o futuro de todo o mundo. Neste conflito interminável, Barões Sucateiros e nações caíram, monastérios foram queimados até a base e exércitos inteiros pereceram. As necessidades táticas desta batalha se baseiam em decisões difíceis tomadas pelo Pontifex. O conceito de destino cego e imutável não tem lugar na Fé Angélica; cada revolta, cada crise econômica e cada nova idéia questionável que se expande entre os fiéis contribui com as maquinações malígnas do Senhor das Moscas e com a doentia influência das Crias. Entretanto, as pessoas que acabam sucumbindo às insinuações do mal sabem ocultar-se muito bem, manipulando outros, lançando teias* invisíveis e sabotando os esforços dos Engel sempre que podem (mesmo sendo somente ferramentas de uma mente inimaginavelmente maligna, invisível para os habitantes da terra). São homens e mulheres comuns que caíram junto às Crias sem nem se dar conta disto. 

Passaram-se poucos anos desde que a Hoste Celestial se lançou a combater as Crias na Segunda Cruzada, depois de perceber mudanças preocupantes em seus inimigos (mais detalhes sobre o assunto no Capítulo Um: Historia Apocaliptica). Não se avista o fim da cruzada, apesar dos Sucateiros estarem fartos de combatentes andando em seu território, dos braços Gabrielitas empunhando espadas começarem a ficar exaustos e dos habitantes de muitas terras distantes não se mostrarem avessos ao desejo de se iluminar pela luz da fé verdadeira. A guerra contra as Crias, que começou há quase trezentos anos, vai desde as ruas de Roma até as infinitas fronteiras do arquipélago de Tunguska. Há alguma razão no velho ditado "Nada é para sempre, exceto a guerra e a chuva". 

No entanto, os sinais de um iminente Armagedon, a batalha final, são cada dia mais claros. De acordo com as profecias de Fray Juda, esta batalha colocará um ponto final no mundo tal como o conhecemos. Fray Juda foi um pregador dos Apeninos* (Alpes?) abençoado (ou amaldiçoado?) com um dom profético. Escreveu suas visões durante o século XXII. Suas profecias asseguram que: "Incontáveis homens perecerão nas inundações mais devastadoras/ Que serão conhecidas como o Terceiro Dilúvio/ Que consistirá em sangue, água e bílis/ Em partes iguais/ E junto ao homem perecerão/ Os Engel do Senhor/ E os exércitos do Senhor das Moscas". A professia prossegue afirmando que somente quando surgir o novo mundo dentre as ruínas do antigo se saberá qual dos lados saiu vitorioso. 

Os oniscientes Ramielitas dizem que esta batalha é certa, que talvez faltem apenas alguns poucos anos. 


COMO UTILIZAR ENGEL 

Engel é dividido em dois livros. O primeiro é focado na ambientação do jogo, o segundo oferece as regras para jogá-lo. Mas a Regra de Ouro enquanto se lê Engel é que deve dar asas à sua imaginação. 

Os parágrafos a seguir o ajudarão a se orientar: 


PRIMEIRO LIVRO 
  • Capítulo Um: Historia Apocaliptica descreve as origens dos Engel e como se tornaram o que são agora. 
  • Capítulo Dois: Urbi et Orbi descreve o mundo no qual os Engel vivem. 
  • Capítulo Três: Mater Ecclesia detalha a hierarquia e as diversas facções dentro da Igreja Angélica. 
  • Capítulo Quatro: Promissum é focado nos Engel que serão interpretados e nas ordens nas quais se organizam. 
  • Capítulo Cinco: Amici et Inimici retrata os companheiros e os inimigos dos Engel. 


SEGUNDO LIVRO 
  • Capítulo Um: Alicerces serve de introdução ao mundo dos jogos narrativos. 
  • Capítulo Dois: Sermão mostra ao Narrador como desenvolver aventuras emocionantes para Engel e oferece truques e conselhos sobre a arte de tecer histórias?. 
  • Capítulo Três: Alea Iacta Est proporciona regras para o jogo. 
  • Capítulo Quatro: Equipamento contém um grande variedade de ferramentas, armas e toda sorte de equipamento do mundo de Engel. 


ELEMENTOS PARA JOGAR AO VIVO

Os jogos de interpretação ao vivo ganharam uma popularidade considerável em todo o mundo. Este estilo de jogo se aproxima mais da interpretação no teatro do que aos jogos narrativos convencionais; os jogadores literalmente encarnam suas personagens ao invés de simplesmente descrever suas ações e simular situações com o auxílio dos dados. Os jogadores não entram somente no papel, se vestem também como seus personagens. O mais importante nestes jogos é a diversão, as regras não são tão importantes quanto nos jogos de mesa. 

Criar um jogo ao vivo baseado no conceito de Engel parece um pouco problemático, mesmo assim é possível se for empregado um estilo misto com elementos de ambos os jogos. Vários elementos inerentes do jogo (como a capacidade de vôo dos Engel) não podem ser incorporados na versão ao vivo do jogo. 

Por outro lado, a clássica visita a uma hospedaria ou a participação em um ato sagrado massivo podem ser transportados a uma sessão ao vivo. Se você decidir tentar a sorte em um jogo ao vivo baseado em Engel, terá que investir muito esforço, porque do contrário, o meio do caminho perceberá que seus planos provocam efeitos indesejados, como quando os decepcionados jogadores se queixam sobre uma interpretação interessante que é interrompida por uma descrição verbal de um ação impossível de representar de forma apropriada em uma sessão ao vivo. Entretanto, você não encontrará em Engel nenhuma situação em que os dados determinem o resultado de uma disputa teológica (evidentemente, estas situaçõs devem ser interpretadas, da mesma forma como uma camareira não precisa rolar um dado para flertar com um Templário...). 


FONTES 

A era moderna descobriu os anjos e é claro que Engel forma parte deste Renascimento da Hoste Celestial. Muitas pessoas têm mostrado um interesse renovado pela introspecção, a espiritualidade e o misticismo (especialmente depois de passada a virada do milênio sem que tenhamos entrado em nenhuma nova era em especial). E já mencionamos que os anjos sempre foram um dos temas favoritos da arte e da literatura. 

Portanto, nos inspiramos em muitas fontes. O que se segue é apenas uma amostra. 
  • A Bíblia Sagrada 
  • Baudelaire, Charles: Las Flores del Mal, Pre-Textos, 2002 
  • Davidson, Gustav: A dictionary of Angels, Free Press, 1994 
  • Godwin, Malcolm: Angels: An Endangered Species, Simon & Schuster, 1990 
  • James, Geoffrey: Angel Magic: The Ancient Art of Summoning and Commicating with Angelic Beings, Llewellyn Publications, 1995 
  • Messadié, Gerald: A History of the Devil, Kodansha International, 1997 
  • Rilke, Rainer Maria: Nueva Antología Poética, Planeta, 1991 
  • Trakl, George: Dark Seasons: A Selection of Poems by George Trakl, General Distribution Services, Inc, 1994 

7 comentários:

  1. Excelente iniciativa! Por acaso tenho pena que o universo interessante do Engel não tenha tido tanto sucesso como deveria no mercado dos RPGs.

    Sabes que a versão alemã original tinha uma sistema de regras próprio que usava um baralho de tarot original? Eu tenho as cartas alemãs e o PDF da regras originais traduzido para o Inglês. Não valeria a pena traduzir este último para Português, também? :)

    ResponderExcluir
  2. Saudações, JRNMariano.
    Valeu pela força.

    Eu soube do sistema original e seu baralho e até baixei as regras em inglês também, mas sou péssimo pra traduzir textos em inglês.

    Se você puder scanear suas cartas, seriam muito bem vindas à nós amantes deste cenário. Não as encontrei pra baixar em lugar algum.

    Estou procurando há bastante tempo o pdf do Engel d20 (2ª edição) em alemão pra poder copiar a parte visual e montar um arquivo bonitinho traduzido pra baixar.

    Se alguém puder me informar onde achar (gratuitamente), agradeço muito.

    ResponderExcluir
  3. Olá Bruno!

    Eu tenho uma impressão das regras do sistema original mas por acaso não encontro o PDF que usei para imprimir o que é uma pena.

    Aliás comprei de propósito a 2ª edição alemã para ficar com as cartas.

    Também acho que havia aí pela internet um ficheiro com as cartas digitalizadas.

    A ver se descubro para te facilitar o projeto.

    Seria bastante interessante se existisse uma versão em português "oficial" deste RPG cheio de potencial. Quanto será que custa a licença, eh eh?

    ResponderExcluir
  4. Regras do Engel original em Inglês: http://www.mediafire.com/?mxulum3zizn

    ResponderExcluir
  5. Saudações, JRNMariano.

    Valeu pelo link. Embora eu seja, como disse antes, ineficiente pra traduzir textos do inglês.

    Vez ou outra ainda faço buscas pelo PDF do Engel em alemão (é esse o livro: http://zip.net/bsdsQF), mas não encontro download gratuito. Ou eu não fui feliz na minha pesquisa mesmo ou os alemães não são muito de fazer uploads de RPG...

    Se alguém encontrar este livro, vou poder fazer uma diagramação bonitinha pra tradução do Engel.

    Aguardo esta alma bondosa.:)

    ResponderExcluir
  6. Rapidao Bruno, voce sabe ler e traduzir do alemao mas nao do ingles?.. dafuq?

    ResponderExcluir
  7. Não, não, Guilherme, você entendeu errado. Eu traduzi da versão espanhola do jogo. Estou atrás da versão alemã para retirar as imagens na hora de diagramar o livro. rs

    ResponderExcluir

Deixe sua opinião, visitante. ^^